quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Em busca do humano total

Referência: Para ler Finnegans Wake de James Joyce, de Dirce Waltrick do Amarante.

Introdução.
Este é um livro que tem uma narrativa onírica e por isso não é possível traçar uma linha cronológica, é uma narrativa da linguagem, por isso não tem começo, meio e fim. Para essa nossa análise, esta seria a obra mais interessante de Joyce.
Um dos atrativos que incentivam o trabalho sobre a obra de Joyce, seria o virtuosismo técnico e a competência narrativa, esse um dos principais aspectos que levaram Caetano a trabalhar com esse autor tão difícil. Seus textos são marcados por um invencionismo e não uma invencionice. O primeiro livro que Joyce escreveu era uma enorme biografia, ele jogou tudo fora e reescreveu mais tarde, dando então origem a obra: O retrato do artista quando jovem.

Dublinenses.
É neste livro onde vai aplicar melhor a técnica da narrativa. É um olhar penetrante para o outro, para o externo. Neste relato podemos perceber uma grande capacidade de empatia, o que caracteriza a capacidade de entender e de se projetar nos outros. Com isso a capacidade de conceber outros possíveis.


O retrato do artista quando jovem.
Este é um livro sobre o próprio Joyce, quando jovem, quase adolescente cujo personagem principal é Stephen Dedalus, alterego de Joyce. Aqui o autor, sai do painel externo e passa a falar de si em forma de monólogo interior. Há uma identificação com o pensamento adolescente. Dublinenses e o retrato, foram escritos na mesma época, mais é possível traçar essa diferença na narrativa; quando Joyce publica esse livro, já esta muito afastado desse eu. Vai ser publicado no dia do aniversário de 40 anos, dia 2 de fevereiro. Ressaltando uma superstição que Joyce fazia questão de exigir. Depois disso, vai então escrever Ulisses, sua grande obra.


Ulisses.
Começa com três episódios sobre Dedalus, dando a impressão de uma continuação. No terceiro episódio aparece o fluxo de consciência num grande monólogo interior de Dedalus, onde ele esta caminhando pela praia e divagando. Isso chega a causar uma estranheza e até um choque no leitor, devido a mudança de narrativa, porque é preciso que o leitor acompanhe as razões do personagem.
Na vida pessoal de Joyce, ocorre uma série de acontecimento, entre eles a morte da mãe. Esses acontecimentos são trazidos para o texto de Ulisses, onde acontece uma mescla de ficção e os fragmentos de sua vida pessoal. Aqui Joyce não é mais a pessoa que escreveu o retrato. No quarto episódio, começa a falar de uma outra pessoa que é o Leopold Bloom, personagem central da narrativa, esta passagem pode ser compreendida como uma metáfora: “O sol nasceu de novo”, a esta nova pessoa que surge, onde antes estava noite agora o sol vem trazendo essa nova pessoa. Temos agora duas pessoas em contraste: o Bloom e o próprio Joyce no alterego de Dedalus, os dois tentando se encontrar. Então: na continuidade da explanação, primeiro, Joyce olhou para fora, para os outro; depois olhou pra dentro, com o retrato do artista quando jovem; e agora esta olhando para fora e ao mesmo tempo para dentro de si.
Destaque aqui também para a personagem feminina de Moly, a mulher do homem velho, uma personagem mais sofisticada, relatada com várias técnicas de representação de discurso. Monólogo interior, junto com outras técnicas para entrar em uma esfera adiscursiva. Uma descontrução da escrita. Mais adiante, Joyce vai opor o Ulisses ao Wake, já que aquele é a narrativa do dia, do sol; este trata da noite, dos sonhos.


Finnegans Wake.
Ulisses acaba com um sonho de Moly proposital, para terminar o livro de uma maneira fácil. Joyce usa uma técnica que consiste em “não diga, fulano esta com sono. Faça-o dormir”. Então Bloom vai murchando, sumindo até terminar o livro. Wake é sobre a noite, trata do mundo dos sonhos, então Joyce não vai fazer o relato de um sonho, vai narrar como se estivesse no sonho. Isso se reflete na forma com que cada leitor vai se deparar com os textos, tornando o livro muito pessoal. Assim como os mecanismos que são essenciais na produção dos sonhos.
Joyce termina Wake aos 56 anos e falece aos 58, portanto esse é um livro sobre o fim da vida, é um livro sobre a maturidade quando a pessoa tem mais facilidade de se reconhecer e de rever tudo que viveu: recalque, incesto, culpa, sexo e morte. E porque Freud e Joyce tinham tanto em comum? Em tudo existe mais no homem, o humano é maior. Joyce queria deixar um livro obscurecido, porque existem coisas que não podem ser ditas. Tem mais atrás do que esta escrito e que é visível, coisas que são humanas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário