quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A cilada para os deuses.




No fim do ano passado em 2008, quando começamos a articular nosso cartel, meu primeiro, escolhemos como tema de estudos a transferência. Por isso eu logo tratei de providenciar o seminário 8 cujo título é transferência. Ao longo desse ano e já com o cartel em pleno funcionamento e com a ajuda de nosso mais um, fui logo percebendo que o seminário 8 não é um seminário fundamental na teoria, e também não é marcante sua contribuição para o estudo da transferência. Ao longo dos estudos pudemos perceber que este tema é muito bem trabalhado no seminário 1, que no fim desse ano pudemos estudar e perceber essas diferenças. O que posso concluir com isso: que o cartel tem me ajudado na formação justamente nesse ponto, que é de conhecer um pouco melhor os temas tratados em alguns dos seminários de Lacan, conhecer o que é trabalhado em cada um deles, isso é uma oportunidade excelente porque facilita a compreensão da obra como um todo, ao longo dos anos da formação.
Quando eu criei esse blog foi justamente para tratar desses avanços e dessas conquistas no campo da formação, e tive então a inspiração do seminário 8, no qual eu me atirei com tudo achando que seria pontual em nossos estudos durante o período do cartel. O título do blog: A cilada para os deuses, aparece no capítulo X Agalma, e justifica o surgimento do agalma como se tratando de uma cilada para os deuses, ou seja aquilo que engana que gera dúvidas. Este capítulo X é central no seminário 8, mas não trata muito especificamente a respeito da transferência que vai ser tratada mais para frente, no capítulo XII mas também, sem muita profundidade. Se fosse para tratar de um tema que norteia o seminário 8 eu me atrevo a dizer que esse tema seria o amor ou quem sabe o desejo. Lacan utiliza-se do Banquete de Platão quase que o tempo todo nesse livro para analisar o amor que Sócrates despertava em seus interlocutores, a maneira que ele despertava o interesse de quem ouvia sua oratória, amor que leva ao desejo pelo qual Alcebíades se coloca a mercê de Sócrates sem saber, pelo agalma, que aparece aqui melhor exemplificado como uma cilada.
No fim das contas e no fim de um ano de trabalho, me dou conta de que valeu ter me deixado levar por uma paixão, que foi o seminário 8, que na época eu acreditava que iria guiar nossos estudos. Dessa maneira foi possível traçar esse paralelo e perceber essas sutilezas que não fosse assim não descobriria. Acho que valeu também o nome que dei ao blog, embora tivesse pensado que seria um tema central dos estudos, o nome foi algo que ficou e com um significado que cada vez mais vou compreendendo o sentido, mas vai aos poucos se desvelando, não como havia imaginado no começo, mas com outro sentido.
Bem é chegado o fim do ano, e com ele as merecidas férias, vou dar um breve tempo nas postagens do blog até passar o ano novo. Assuntos não faltam, mas é merecido o descanso. A todos que acompanharam o blog e que leram algumas matérias o meu muito obrigado, e tenham todos boas festas. E que no ano que vem A cilada para os deuses volte com tudo tratando da formação em psicanálise, juntamente com minha impressão do trabalho em um centro de estudos de psicanálise, mais um desafio para mim no ano de 2010.



terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Saúde mental e qualidade de vida, qual a relação possível?

Desde 1948, com a definição oficial da Organização Mundial de Saúde, o conceito de saúde, sofreu algumas alterações importantes, especialmente no que diz respeito a saúde mental. Situação esperada e previsível, dada às modificações de hábitos e condutas enfrentadas pela população mundial nos tempos atuais. Se antes saúde era vista apenas como “ausência de doenças”, a definição de Gonçalves (1981) propõe uma espécie de ementa a definição da OMS: “ a saúde não é entendida como ausência de doença, nem só um completo bem-estar físico, psíquico e social, mas a atitude ativa de fazer face às dificuldades do meio físico, psíquico e social, de entender sua existência e, portanto, de lutar contra eles.” Neste conceito podemos destacar o fator interacional e a relação entre as pessoas e seus comportamentos frente as dificuldades decorrentes dessa interação. Assim faz-se presente o trabalho do psicólogo, frente a questões relativas a fatores emocionais gerados através do relacionamento entre seres humanos, e como esses fatores vão se organizar na vida do indivíduo.
Neste contexto, a Psicologia Clínica vai ter seu trabalho direcionado para a capacidade de adaptação do ser humano às diversas condições de vida, ou seja, a forma como cada um vai se posicionar diante das mais variadas situações e adversidades, buscando o tão almejado bem-estar. Segundo Freud (1969): “serve à finalidade prática de nos capacitar para a defesa contra sensações de desprazer que realmente sentimos ou pelas quais somos ameaçados.” Assim, a idéia de promoção da saúde esta diretamente relacionada ao fator qualidade de vida QV presente nas diversas instâncias da vida das pessoas, fator que vai depender tanto dos aspectos psicológicos quanto dos sociais.
Para tanto faz-se necessário citarmos a definição da OMS, agora para o fator QV como sendo “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e valores nos quais esta inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.”(GAMEIRO, CARONA et al.,2008) Ao relacionarmos QV e saúde mental, nos deparamos como uma série de estudos científicos avançados que nos levam a entender o quanto um fator esta relacionado ao outro. Que vai desde o interesse do paciente em seguir o tratamento e as recomendações feitas pela equipe médica-quando internado em um hospital, por exemplo- até as conseqüências decorrentes de uma patologia como a depressão. Num sistema de saúde sobrecarregado como o brasileiro, a relação entre QV e saúde mental vem a ser de grande importância, uma vez que pacientes com tendência a distúrbios mentais, procuram muito mais as clínicas gerais do que os ambulatórios de saúde mental se queixando de sintomas físicos (somatização), o que pode comprometer ainda mais a qualidade já precária do atendimento público. Como ressalta Galera, Teixeira (1997): “Esses critérios de QV ressaltam a idéia de que a qualidade de vida é um elemento importante na avaliação e no planejamento da assistência, podendo contribuir para a efetivação de uma prática mais voltada para atender às reais necessidades do doente.”
E para que este planejamento seja o mais eficiente possível, as equipes de saúde devem dialogar entre si, para que cada especialidade possa agir dentro de sua área de atuação para permitir uma melhor qualidade no atendimento. Para se alcançar uma boa QV, partimos então do pressuposto que o sujeito possa ter uma boa saúde mental, que vai lhe permitir meios de cuidar bem de si e de alcançar seus objetivos e metas nos mais variados setores da vida, tanto afetivos quanto pessoais e profissionais. Uma vez que a capacidade de desenvolvimento, todos possuem, falta apenas condições de colocar em prática essas qualidades, muitas vezes reprimidas por convenções sociais e culturais. A liberdade de escolha é uma das principais armas que o ser humano conta no desenvolvimento de suas potencialidades. Freud (1969): “Contra o sofrimento que pode advir dos relacionamentos humanos, a defesa mais imediata é o isolamento voluntário, o manter-se à distância das outras pessoas.” Ou quando o sujeito já tentou isso sem sucesso, resta-lhe a possibilidade de tentar alternativas. A fuga do sofrimento é uma possibilidade possível de se alcançar, embora difícil e que vai exigir certa dose de coragem e determinação por parte da pessoa que sofre, mais que se vê diante de situações que lhe impõem um desafio ainda maior. Novamente, Freud (1969): contudo, os métodos mais interessantes de evitar o sofrimento são os que procuram influenciar o nosso próprio organismo. Em última análise, todo sofrimento nada mais é do que sensação; só existe na medida em que sentimos, e só o sentimos como conseqüência de certos modos pelos quais nosso organismo esta regulado.” O primeiro passo quem dá é o sujeito, então vamos ao trabalho.


REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização [cd-rom]. Rio de Janeiro: Imago; 1969.


GALERA, Sueli Aparecida Frari;TEIXEIRA, Marina Borges. Definindo qualidade de vida de pessoas portadoras de problemas de saúde mental. Rev. Latino-Am. Enfermagem.[online]. 1997 [capturado em 15 jul 2009]; 5: 69-75.Disponível em:


GAMEIRO, Sofia; CARONA, Carlos; PEREIRA, Marco; CANAVARRO, Maria Cristina; SIMÕES, Mário; RIJO, Daniel; QUARTILHO, Manoel João; PAREDES, Tiago; SERRA, Adriano Vaz. Sintomatologia depressiva e qualidade de vida na população geral. Rev. Psicologia, Saúde e doença [on line]. 2008 [capturado em 15 jul 2009]; 9:103-112.Disponível em:


GONÇALVES, Aguinaldo. A saúde e a população: contribuição para o entendimento deste binômio em nosso meio. Ciência e cultura. 1981, 33 (11): 1425-1429.


JURKIEWICZ, Rachel. Psicologia Clínica e saúde. Psicologia Argumento. 2003, 21 (34): 41-47.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Grupo de leitura.


Estamos quase chegando ao fim do Seminário 1. Mas a conclusão vai ficar mesmo para o ano que vem, a parte final que eu me propus a trabalhar: A palavra na transferência. Bom a idéia que fica desse livro seria um retorno aos conceitos fundamentais da obra de Freud, de maneira mais específica ao conceito da transferência, onde Lacan recupera os escritos que ficaram esquecidos por um tempo. Aqui, há uma critica muito forte a corrente que defende a psicologia do ego, por isso um retorno aos textos fundamentais da Psicanálise. É como se fosse feita uma segunda leitura da obra freudiana, muito pessoal de Lacan, com a ajuda de vários interlocutores, como Jean Hyppolite, O. Mannoni, D. Anzieu entre outros nomes conhecidos na Psicanálise.
Tem sido uma oportunidade e tanto participar desse grupo de leitura, porque tem ampliado meus conhecimentos, e como falta mais da metade do livro, posso voltar a comentar mais adiante. Por enquanto é isso.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O que é poesia?


A Confraria do Vento e a Casa das Rosasconvidam para o lançamento do livro O QUE É POESIA?organizado por Edson Cruz
Depoimentos de 45 poetas contemporâneos brasileiros, portugueses e hispano-americanos respondendo a três questões essenciais sobre o fazer poético de cada um deles. O lançamento contará com debate, recital e performance:

16h – DebateOs caminhos da poesia contemporânea brasileira:dificuldades e acertos
ComAffonso Romano de Sant'Anna, Carlito Azevedo, Carlos Felipe Moisés,Lúcia Santaella, Márcio-André, Nicolas Behr e Ricardo Silvestrin. Mediação: Edson Cruz.

18h15 – RecitalPoeta em Voz Alta ComAdemir Assunção + Affonso Romano de Sant'Anna + Carlito Azevedo + Carlos Felipe Moisés + Claudio Daniel + Claudio Willer + Donny Correia + Edson Cruz + Eunice Arruda + Flavio Amoreira + Frederico Barbosa + Luiz Roberto Guedes + Marcelo Ariel + Marcelo Tápia + Márcio-André + Micheliny Verunschk + Nicolas Behr + Reynaldo Bessa + Ricardo Silvestrin + Rodrigo Petronio + Victor Paes + Virna Teixeira. Mestre de Cerimônia: Frederico Barbosa

21h – Performance multimídiaBoca também toca tambor comRicardo Aleixo

O evento faz parte das comemorações pelo aniversário da Casa das Rosas.A Rave Cultural é um evento da Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura cuja primeira edição foi em dezembro de 2006. Desde então, tornou-se a festa anual em comemoração à reabertura do local como espaço de poesia, homenageando o poeta concreto Haroldo de Campos. Em sua quinta edição, a Rave Cultural prepara grandes atrações que começam às 14h do dia 5 de dezembro e se estendem até as 5h da manhã do dia 6. RAVE CULTURAL 2009Sábado e domingo, 5 e 6 de dezembro

CASA DAS ROSAS – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e LiteraturaDiretor: Frederico BarbosaAv. Paulista, 37 -Bela Vista – Metrô BrigadeiroFone: 11 3285-6986/ 3288-9447Funcionamento: Terça a sexta, das 10h às 22h.Sábados e domingos, das 10h às 18h.

Aceleração e depressão.

Programa apresentando ontem a noite pela série da rede cultura de televisão: Café Filosófico. Cujo módulo trata dos efeitos psicológicos da crise, ontem o tema tratado por Maria Rital Kehl foi “aceleração e depressão”.
A conferência começa com um vídeo de uma música de Paulinho da Viola que trata do tema do imediatismo na cultura atual. E nesse paradigma o capitalismo é o senhor do tempo, porque tempo é dinheiro. Para podermos fazer uma relação entre o tempo e a depressão, vamos investigar qual é o trabalho do psiquismo: seria basicamente de representar o objeto faltante, e o que conta aqui é o tempo de espera da satisfação pelo bebê recém-nascido. O grito do bebê faz a mãe vir e a vinda da mãe traz satisfação à angústia da criança e isso torna-se uma primeira marca dessa experiência e um primeiro trabalho psíquico que é um trabalho de alucinação. Vemos que ai existe os intervalos temporais. E num segundo momento que esse movimento acontece, vai permitir que a criança não alucine mais. Com isso, fornece representação para aquilo que falta, esse é o trabalho do psiquismo. E esses intervalos de tempo é o que vai permitir que o sujeito se constitua.
E como o tempo é medido pela nossa sociedade? Num primeiro momento o que contava eram os ciclos de colheita: trabalhava-se durante o dia com a luz do sol, colhem-se cada colheita em sua época, etc. Na idade média, o tempo era medido por um protótipo de relógio que ficava em cima das igrejas: o tempo era contado na hora das orações, no dia dos batismos e celebrações religiosas. E finalmente na época em que vivemos o tempo foi contado a partir da revolução industrial, quando era contado a partir do trabalho dos funcionários nas indústrias. Por isso que a forma da constituição do poder é o controle do tempo. A relação entre tempo, consciência e memória. Maria Rita cita uma série de autores que tratam um pouco dessa relação, e um deles diz que o presente não existe. A memória é o que prolonga o antes e o depois. Que é justamente o que o deprimido perde: o sentimento do depois. O deprimido vive num tempo que não passa, porque ele não deseja nada no depois. O presente na modernidade é comprimido, porque acontecem tantas coisas no nosso dia, a gente fala ao telefone em qualquer lugar e qualquer hora, encontra com pessoas, fala, conversa e no fim do dia, quando somos perguntados dizemos: “não tenho nada para dizer”. O efeito da aceleração temporal, já era tratado por Freud, em sua carta a Fliess e depois em Além do Princípio do Prazer, onde se analisa o trabalho da consciência como sendo uma espécie de anteparo para a chegada dos mais variados estímulos ao sistema percepção consciência.
Numa época em que não é permitido ser deprimido, como podemos entender que a depressão adquira um status de epidemia? Maria Rita, atribui a aceleração que marca a vivência temporal do sujeito desvaloriza a vida psíquica o que produz uma profunda sensação de vazio.


Veja esta palestra na íntegra pelo site cpflcultura.com.br

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A espera da última temporada.

Video promo da última temporada de Lost. A série que é sucesso no mundo interiro chega a sua última temporada, antes de cair na mesmice. Os produtores tomaram como lição o que aconteceu com a série dos anos 90, Arquivo X, que teve pelo menos duas temporadas a mais. Lost chega ao fim sempre atual.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

É proibido proibir?

A partir de ontem a meia noite, está proibido fumar em locais fechados. É a nova lei anti-fumo, lembro do tempo em que a gente saia pra dançar e era aquela fumaceira, gente fumando no meio da pista de dança, queimando a gente com cigarro. Ñem sei como podia fazer isso, mais era assim uma coisa que limitava a nossa liberdade, e o pessoal que fumava, antigamente não estava nem ai, era moda e bonito fumar no meio do salão. Mais agora sair a noite virou um desafio, não pode mais beber nem fumar, o que a gente vai fazer então quando a conversa estiver chata, ou quando a gente não esta em boa companhia? Tomar refrigentente de mais faz mal! E a perseguição contra os fumantes terá tido então seu último episódio? Que mais que dá para proibir. É a neurose coletiva instalada na sociedade de consumo, que consumiu tanto que agora não sabe mais o que fazer, e então proibibe. Primeiro incentiva, e depois que não dá conta proibibe. Seria bom se proibissem a degradação do meio ambiante, a emissão de gases tóxicos, o desperdício de água e de energia. Já que é proibido, que seja banstante, senão o mundo acada.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Salve-se quem puder!

Nesta semana, todos os radares de velocidade implantados na cidade de Curitiba estão sendo desativados. Não vamos nem pensar no custo disso, que foi pra colocar e agora vão ficar sem utilidade, vamos pensar apenas no transtorno moral.
De agora em diante este tudo liberado, vão voltar a correr feito uns doidos como se o mundo fosse acabar, e o pior, se você não gosta de correr, vai ter que correr como eles porque senão é buzinada e xingada por tudo quanto é lado. 60 km/h eu me lembro como foi difícil para os motoristas se acostumarem com essa velocidade nas vias rápidas, eu mesma tinha um enorme problema com isso, quando era mais jovem, pra aceitar que 60 km/h dava pra chegar onde fosse. Mais agora depois de tanto tempo voltamos a estaca zero. Educação no trânsito, isso esta longe de acontecer, o único regulador eram os radares, então diziam: “indústria da multa”. Indústria da multa uma ova, cito como exemplo esta que vos escreve, que só levou duas multas até hoje por excesso de velocidade, uma delas porque vinha um ligeirinho (no mais verdadeiro sentido da palavra) colado na minha traseira dando luz alta, então tive de acelerar e acabei levando a multa. Mais esse mesmo cara que aparece na Paraná Educativa dizendo que é “indústria da multa” falou uma vez que os semáforos estão desregulados, que estão fora de sintonia, cuidado é esse o tipo de cara que passa no vermelho e no amarelo e depois sai dizendo nos meios de comunicação que os semáforos em Curitiba estão fora de sintonia. Sabia que em Florianópolis é proibido passar no sinal amarelo? Se fizer isso aqui o cara da Paraná Educativa vai ter um ataque do coração ele e mais um monte de gente que é incapaz de esperar o sinal ficar vermelho pra parar. E por falar em sinal vermelho, bom isso já faz tempo que ninguém mais respeita, só respeitam se vier carro na outra rua, pois se obrigam a parar; porque se vier pedestre, coitados tem que sair correndo senão os carros passam por cima. Já vi até gente na contra mão de direção em plena Brigadeiro Franco às quatro horas da tarde, é mole ou quer mais? Tinha que filmar senão ninguém acredita, foi um sufoco! E depois dizem por aí que mulher é que não sabe dirigir.... Bom só espero que não peguem mais no pé dos guinchos que estão levando tudo quanto é carro que para em local proibido, tudo não senão ia faltar guincho, mais tem mesmo é que dar um susto nessa turma que para em qualquer lugar é só ver um espacinho, já estão enfiando carro. Isso pra não falar dos nossos queridos moto-boys aos quais eu não tenho nada contra porque sempre foram os mais legais no trânsito, ao menos comigo, tem que ficar o tempo todo escapando desse monte de barbeiro. Uma coisa que todo motorista devia fazer é sinalizar mudança de faixa, mais dae já é querer de mais, se costura, não precisa dar seta, não dão seta nem pra fazer curva vão dar pra mudança de faixa de direção? Pra falar dos taxistas, tem que ter um texto só deles, porque o que aprontam não esta escrito, só andam certo quando tem passageiro porque não estão com pressa que aumenta o valor da corrida e tudo mais, senão mantenha distância.
Carro virou em elemento fálico, quem tem carro tem poder e passa por cima dos outros não esta nem aí, quanto mais potente o motor, mais pode o motorista, gentileza pra que? Se o que manda é a potência do motor, gentileza é pra quem não tem um motor V8. E agora que está tudo liberado sem radar sem nada, salve-se quem puder.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Morre Claude Lévi-Strauss


O Portal de Notícias da Globo
03/11/09 - 14h41 - Atualizado em 03/11/09 - 20h10
Morre Claude Lévi-Strauss
Ele é considerado o fundador da Antropologia Estruturalista. Entre 1935 e 1939, lecionou sociologia na USP.
Do G1, com agências


O antropólogo Claude Lévi-Strauss em foto de 8 de junho de 2001.
Foi anunciada nesta terça-feira (3) a morte do antropólogo Claude Lévi-Strauss. A informação é da editora do intelectual, pela qual o falecimento teria ocorrido entre sábado e domingo. Criado em Paris, ele nasceu em Bruxelas em 28 de novembro de 1908. Fundador da Antropologia Estruturalista, é considerado um dos intelectuais mais relevantes do século 20.

Membro de uma família judia francesa intelectual, Lévi-Strauss estudou Direito e Filosofia na Sorbonne, em Paris. Lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo (USP), de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central.

Ali passou breves períodos entre os índios bororós, nambikwaras e tupis-kawahib, experiências que o orientaram definitivamente como profissional de antropologia.
Em 1955, publicou "Tristes Trópicos" - um registro dessas expedições. No livro, ele conta como a vocação de antropólogo nasceu durante as viagens ao interior do Brasil.
Jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como única

Após retornar à França, em 1942, mudou-se para os Estados Unidos como professor visitante na New School for Social Research, de Nova York, antes de uma breve passagem pela embaixada francesa em Washington como adido cultural.

"Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele"

Fez parte do círculo intelectual de Jean Paul Sartre (1905-1980), e assumiu, em 1959, o departamento de Antropologia Social no College de France, onde ficou até se aposentar, em 1982.

Lévi-Strauss passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos.

Jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como única. Enfatizava que a mente selvagem é igual à civilizada.

As contribuições mais decisivas do trabalho de Lévi-Strauss podem ser resumidas em três grandes temas: a teoria das estruturas elementares do parentesco, os processos mentais do conhecimento humano e a estrutura dos mitos.



Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha.

Declarou na ocasião: "Fico emocionado, porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".
Bibliografia publicada no Brasil
· Tristes Trópicos (Companhia das Letras, 1996)
· As Estruturas Elementares do Parentesco (Vozes, 2003)
· Antropologia Estrutural (Vol. 1) (Cosac Naify, 2008)
· Antropologia Estrutural (Vol. 2) (Tempo Brasileiro, 1993)
· O Pensamento Selvagem (Papirus, 2005)
· Sociologia e Antropologia, de Marcel Mauss (introdução de Claude Lévi-Strauss, Cosac Naify, 2003)
· O Cru e o Cozido - Mitológicas (Cosac Naify, 2004)
· Do Mel às Cinzas - Mitológicas (Cosac Naify, 2005)
· A Origem dos Modos à Mesa - Mitológicas (Cosac Naify, 2006)
· O Homem Nu - Mitológicas (Cosac Naify, 2009)
Nóticia extraída do portal G1.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Em preparação para o evento de sexta.

Acredito que no seminário com Helena Bicalho, será trabalhado mais uma vez o seminário 16, como foi no começo deste ano. Logo na introdução deste seminário: "A essência da teoria psicanalítica é um discurso sem fala." E é por isso mesmo que temos que estudar muito, já tudo é nada. É como se o analisante chamasse alguém a toda hora e esse alguém nunca respondesse. É como se o analisante procurasse respostas onde só existem perguntas. É a angústia, mais é isso o que move o sujeito, rumo ao seu desejo, para se afastar do sofrimento. É o grande Outro que esta ali, ao mesmo tempo que é cúmplice e objeto de amor, é capaz de despertar um ódio intenso. E para ilustrar essa idéia, vai um poema de Cecília Meireles, que eu me atrevo a chamar o poema do grande Outro:


Novo poema da tristeza.
Deixei passar a ronda lenta
De muitas luas,
Mas a minha tristeza não diminuiu...
Longe, longe,
O céu agora é deserto,
Como se houvesse morrido,
Como se houvesse acabado...
Sozinha, no meu luto,
Ergo a mãos,
Cheias de lágrimas,
Em oferenda...
Eleito, ó Eleito.
Não me vês,
Não me ouves,
Não me queres!...
E vais deixar-me ficar assim
Toda a vida...
Oh! Tem pena, ao menos,
Das aves,
Que podem vir beber
Nas minhas mãos,
E endoidecer depois,
Pelos ares,
Da tristeza que me endoidece...
Eleito, ó Eleito,
Deixei passar a ronda lenta
De muitas luas,
E a minha tristeza não diminuiu!...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Sobre Sapatos e letras.


A proposta do autor foi reunir uma série de textos que surgiram de seu trabalho como comentarista na rádio 91 rock e também textos publicados no jornal “Afonso Pena hoje” de circulação no aeroporto da cidade de São José dos Pinhais. No programa de rádio o autor responde a dúvidas de ouvintes sobre diversos temas de ordem prática e de questões surgidas no dia-a-dia das pessoas. De escrita simples e linguagem emocionante, Sapatos e livros é dividido em quatro partes, que permeiam as idéias centrais abordadas nos diversos textos: educação de filhos, relacionamento, valores e sociedade. Sem se tratar exatamente de um manual, o autor dá dicas de como agir segundo sua experiência como educador e psicólogo, em relação a diversos temas surgidos durante os debates na rádio ou durante as reflexões nos textos do jornal.
Em educação dos filhos, traz dúvidas freqüentemente levantadas por pais e professores: se devem bater ou não nos filhos; se dão presentes no fim do ano se eles passarem na escola; quanto tempo as crianças devem ficar no computador, etc. O autor conta também um pouco de sua experiência na educação de seus próprios filhos, e também o que aprendeu com seu avô. No capítulo que dá nome ao livro, faz uma comparação entre ensinar e o oficio de sapateiro, onde os sapatos são feitos artesanalmente. Ensinar tem que ser uma construção, onde a aprendizagem seja o fruto deste trabalho. Traz ainda uma reflexão sobre o atual modelo educacional, sob o ponto de vista de uma criança, que esta na escola. Esta criança tem muitas perguntas sem resposta, e não são perguntas de ordem pedagógica, mais sobre o papel que a escola exerce na formação dos cidadãos.
No segundo capítulo, o autor relata a forma de se relacionar de algumas pessoas, como exemplo de diferentes reações diante de situações constrangedoras. Como no texto, cujo título já diz muito: “Se minha mulher me trair eu mato ela”. Neste capítulo, o autor aborda ainda temas como ciúmes, amizade, amor, casamento, sexo. Interessante o texto “Amar demais”, que trata de pessoas que abrem mão de seu desejo, para fazer a vontade do outro. Estas pessoas se justificam, dizendo que amam demais; quando na realidade o que fazem é esquecer de si por causa deste outro. Isto torna esta pessoa sem graça, sem atrativos, sem nada que seja capaz de despertar o amor no outro, apenas pena. E neste texto, Marcos cita Freud, que afirma: “que o escravo renuncia ao próprio gozo para inscrever-se no desejo do outro.” Deixando muito claro que não se trata de amor, ainda mais amor demais. Já no texto “Dizer não”, Marcos trata da importância de saber se posicionar diante de situações conflituosas. As vezes a pessoa diz sim, por medo de magoar o outro ou por não poder atender a expectativa; e acaba se sobrecarregando, quando esta sempre disponível. Saber dizer não é uma forma de se valorizar e de se amar. E quando as pessoas percebem isso, não vai parecer algo que vai magoar, mais como forma de expressão da subjetividade, da castração.
No terceiro capítulo, valores o autor discute um pouco o que tem acontecido em nossa sociedade. Ou melhor, como a inversão desses valores vem afetar o cidadão comum; quando de um assalto onde os bandidos são menores de idade. Com uma arma em punho, ameaçam matar todo mundo num posto de gasolina; esta na hora de reagir, não contra o assalto, mais contra as condições da segurança pública em nossa cidade. Que nos fazem reféns de garotos que deveriam estar na escola e não nas ruas. Nos texto “Inteligência prática” o autor debate brevemente as condições de ensino em nosso país. Onde os alunos estudam física, mais não são capazes de pregar um prego. Estudam matemática, mais não fazem idéia do que representa um juro de 1% na mensalidade da escola. Não há uma relação entre o que os alunos aprendem na escola e os desafios que vão enfrentar fora dela, e não precisa nem ser desafios, os alunos estudam química e não são capazes de cozinhar um ovo. O autor incentiva claro, uma escola que invista na formação continuada dos professores, mais também sugere que os pais ajudem a ampliar o campo de visão das crianças para que elas possam compreender melhor o mundo em que vivem. Apostando assim, no desenvolvimento da inteligência prática. E depois, para finalizar o capítulo, Marcos relata um momento de solidão, quando esta em uma festa cheia de gente. Com tantas pessoas ainda se sente só, porque as pessoas não são acostumadas a olhar para os outros que ainda não conhecem, são indiferentes. Traz ainda uma reflexão sobre a assertividade, no exemplo de alguém que esta com raiva do namorado que sumiu sem dar satisfação. Esta pessoa poderia ter três reações: poderia ter um desequilíbrio emocional, motivado pela raiva. Ou poderia esperar por uma vingança, em outra oportunidade. Mais esta moça poderia ter também uma atitude assertiva, e dizer para o ex-namorado de seus sentimentos, e de sua decepção, sem julgar ou acusar. Desta forma estaria respeitando seu valor próprio e sua auto-estima, sem alimentar raiva ou vingança.
E na abertura do quarto capítulo, Marcos retoma a importante frase escrita por Freud: “escravo é aquele que vive para realizar o desejo do outro”. Onde mais uma vez trata do tema do amor próprio, da pessoa não se anular diante da vontade dos filhos, da esposa, dos amigos. Quando alguém faz isso torna-se uma pessoa que não é interessante para ninguém, torna-se escravo e deixa de ser alguém que busca suas própria coisas. Marcos debate ainda a educação no “primeiro mundo” e no Brasil. Lá a escola nem é tão boa quanto pensamos. O ensino continua centrado no saber do professor e não há espaço para o debate. Infelizmente no Brasil nem todas as escolas são iguais, mais algumas de nossas melhores escolas poderiam servir de exemplo para qualquer pais do mundo. E sugere que podemos exportar nosso know-how, primeiramente para nós mesmos e depois para fora. No texto Carnaval, relata sua dificuldade para entender os critérios usados para avaliar temas tão subjetivos como harmonia, evolução e bateria. Através de um erro de julgamento menor do que meio por cento. Na escola, isso se reflete na nota que os alunos recebem quando fazem uma redação, por exemplo. Avaliar critérios subjetivos, com mensuração de décimos. Relata ainda a dificuldade dos serviços prestados por um hotel, que deixa a manutenção em segundo plano e não presta atenção às necessidades dos hóspedes. Critica as pessoas que sempre apostam no errado e no ruim, que ficam torcendo para dar tudo errado. Critica também, de modo geral a sociedade, que não é capaz de escolher um bom candidato nas eleições, mais que depois só sabe reclamar. Assim como não há bons políticos, também não há bons profissionais; pois existem muitos cursos superiores de péssima qualidade, incapazes de formar bons profissionais. Cita o exemplo de uma médica dermatologista que consultou que nem sabia o que era o fator de proteção solar (FPS); advogados que escrevem “prossesso” ao invés de “processo”; de psicólogos que não gostam de ler e de professores de educação física que simplesmente soltam uma bola para os alunos correrem atrás. E tudo isso acontece de repente, assim como de repente cai um avião; ou de repente os bandidos tomam conta de tudo; ou de repente se descobre que nossas leis ficaram ultrapassadas e que alunos adolescentes, regularmente matriculados na escola, são semi-analfabetos, tudo de repente. Será que nesse país não há planejamento, ou é falta de organização mesmo? Será que não somos capazes de prever as conseqüências de nossos atos? Questão cultural, e que afeta a todos nós.


Este livro me foi gentilmente emprestado pela professora Haniely Trudes de Freitas. A ela, meus agradecimentos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

BFC e seus convidados.



Antes de tudo, começa com uma questão feita por Denise Cini: porque Lacan se utiliza da lógica? Pra que serve na nossa prática clínica?

O analista pode contar com o auxílio de operadores que forneçam suporte a prática clínica. Retoma a idéia com o grafo do desejo: que se trata de uma estrutura de pares ordenados - um fator relacionado ao outro. Antes do grafo era uma clínica dos significantes, uma articulação entre o simbólico e o imaginário, mais faltava o real. E já no seminário 5 - As formações do inconsciente - aparecem os primeiros apontamentos do grafo do desejo, mais tarde originados da metáfora paterna. E no grafo, aquilo que é do imaginário não é usado para interpretação.

S/s = topologia do inconsciente. , onde: o significado esta sob o recalque, através da barra de divisão.

Marca o rompimento com os pós-freudianos através da autonomia do significante: isso é um operador para a clínica. E só há clínica se houver a transferência, por isso Lacan apresentou o matema da transferência:


S → Sq
s (S1, S2, S3 )

onde: cálculo proposicional
Sq= significante qualquer, que é determinado pela cadeia significante e que vai de encontro ao saber inconsciente.


Transferência: S → Sq ,onde: o significante primário dá lugar ao significante qualquer por meio das retificações subjetivas que ocorrem durante as entrevistas preliminares.

Neste momento: -entrada em análise;
-passagem do sintoma queixa para o sintoma analítico,
através da construção da fantasia.
- modulação da implicação por meio da fala, em que o sujeito
possa pensar através de um modal lógico.

A partir de então, é possível sair do campo da gramática, para irmos ao campo do modal lógico. Quando fazemos essa passagem que é do cálculo proposicional para o cálculo modal surge espaço para a abertura de modeladores que saem da compreensão da síntese e da semântica, que saem da compreensão da realidade e permitem, finalmente a compreensão da esfera do real.

No seminário da Angústia.
A importância da negativização do falo, através da metáfora paterna, que não esta na realidade e nem na esfera do imaginário (não especularizavel) cujo matema é: -Ч/a. E também ressalta a importância do objeto a, com a quebra em definitivo entre o real e a realidade → objeto a / -Ч
O que devemos fazer: buscar símbolos desprovidos de significado e ficar apenas com a imagem acústica. Já que ao se negativizar há uma perda do objeto a através da redução do material clínico, para tratar desejo e gozo e para não dilatar ou inflar o discurso.


Começam as questões.

Elenice Milani: a redução do material clínico é o mesmo que a redução do imaginário?
Para exemplificar isso podemos pensar quando o paciente pergunta coisas sobre nós, a nosso respeito: neste caso o imaginário troca o pequeno a pelo grande A. Reduzir o material clínico na condução do tratamento é outra coisa: quando o sujeito constrói a fantasia, durante o tratamento analítico, já ocorre essa redução, há o enquadre da fantasia para lidar com a Angústia. È uma redução no âmbito gramatical. A outra redução é a do sintoma queixa para o sintoma analítico:

Topologia do inconsciente → Relação entre inconsciente e repetição

/ \
Automaton tiquê
Significante Real


*Sintoma marcado pelo trabalho da cadeia



$ Elementos fundamentais da simbolização
/ \ ↓

S1 ___ S2 Metáfora paterna.

a



Quando o sujeito esvazia a palavra do significado, isso vai descolar significante de significado, o que vem a ser a própria lógica, através do cálculo de predicados. E não se trata do setting mais do dispositivo analítico, e para isso vai operar reduções:

Linguagem natural ≠ linguagem artificial
Sintoma queixa → sintoma analítico

E para finalizar.
A medicina na atualidade tem avançado rumo às pesquisas genéticas e ao estudo dos genes, para solucionar os problemas de saúde da humanidade. Lacan nos dá a receita para a articulação da gramática com a lógica, nesse sentido a medicina é incapaz de dar conta do real. A gramática apenas, também não. A lógica sozinha muito menos. Trata-se de uma questão que esta em toda a comunidade científica, e que tem avançado muito. O que se sabe é que não é possível tratar do real no cérebro, diretamente do sintoma. É preciso tratar do real.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Com a palavra.

Estou iniciando uma série de poemas e textos sobre a palavra, escrita ou falada. Para começar, cito um poema de Alice Ruiz:

tem palavra
que não é de dizer
nem por bem
nem por mal
tem palavra
que não é de comer
que não dá pra viver
com ela
tem palavra
que não se conta
nem prum animal
tem palavra
louca pra ser dita
feia bonita
e não se fala
tem palavra
pra quem não diz
pra quem não cala
pra quem tem palavra
tem palavra
que a gente tem
e na hora H
falta

sábado, 17 de outubro de 2009

Deslocamentos do feminino por Maria Rita Kehl.


Inicia dizendo que desde os primórdios da Psicanálise Freud já sabia das conseqüências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos e que por essa diferença haveria uma distinção. Indo mais adiante na história do pensamento ocidental, Maria Rita cita o livro “Condição Humana” de Anna Arendt: onde o valor de um homem se avalia pela sua vida pública ou na função que ele exerce publicamente. Por isso estariam excluídas da vida pública as mulheres e as crianças que não teriam representatividade social. Do mesmo jeito que fora constituída a Polis Grega. As mulheres e as crianças eram então pessoas sem visibilidade - que seria alguma coisa que essa pessoa faz e que os outros vêem que ela faz e por isso atribuem um valor a isso que é feito.
Mais quando as mulheres conseguiam outros destinos pulsionais, que não fosse cuidar da casa e dos filhos, quando conseguiam outras atividades que lhe satisfizessem, eram consideradas histéricas. E isso deixa de ser escondido por causa das observações do Dr. Freud. Portanto sabe-se que uma parte da insatisfação histérica se dá pela sua condição de castração infantil, o que torna a mulher parecida com a criança (por isso apanha). E na cultura moderna apenas no islamismo e na Psicanálise que existe essa distinção entre homens e mulheres, já que somos todos referidos ao significante fálico. Para Dostoievski, a histeria é a salvação da mulher; e o homem, nesse sentido esta em desvantagem.

A mínima diferença.
Que não precisa nem ser anatômica. Para ilustrar essa diferença, Maria Rita se utiliza dos exemplos de violência doméstica que fizeram parte da mídia. E relava um dado alarmante: cerca de 70% das mulheres assassinadas foram mortas por seus companheiros ou ex-companheiros. Faz uma análise de que talvez o homem de hoje tenha como último reduto de sua masculinidade o ambiente doméstico, e como as mulheres conseguiram o direito de não mais viverem com eles ou de escolher outros amantes, ou seja, descobriram recursos fálicos ao seu dispor na cultura. Esses homens se sentem ofendidos e reagem com violência. Mais não são apenas os homens que não sabem o que fazer diante das mudanças de comportamento, as mulheres também, ai a famosa pergunta “o que quer uma mulher?” Essas mudanças culturais permitiram a elas irem em busca do que querem, ameaçando o reinado masculino.
Mais a mínima diferença é da ordem do infantil. Quando as crianças percebem que há uma diferença, existe então uma fantasia infantil em torno de toda essa diferença, como organizador da personalidade. No real do corpo não falta nada, mais no imaginário infantil sim, e para passarmos para a teoria, no simbólico é a visibilidade que é levada em conta. O imaginário da castração se faz presente e é isso que marca essa diferença, na angústia da castração, que para a mulher que não tem nada a perder, tudo é lucro. Mais para o homem, fica a ameaça se não cuidar pode ficar como a mulher, que não tem, é uma constante ameaça. Esta aí então a mínima diferença, no resto homens e mulheres são praticamente iguais, nas roupas, no trabalho, nas obrigações. O que quer dizer que a sociedade ampliou o simbólico. Mais o que acontece com o desejo? Atribui-se ao outro como causa do desejo, nesse sentido, a mulher é o objeto a por natureza: persegue mais nunca se alcança. A mínima diferença é o que mantém a relação entre homem e mulher, ela é subjetiva e marcada pela demanda do falo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Em busca do humano total

Referência: Para ler Finnegans Wake de James Joyce, de Dirce Waltrick do Amarante.

Introdução.
Este é um livro que tem uma narrativa onírica e por isso não é possível traçar uma linha cronológica, é uma narrativa da linguagem, por isso não tem começo, meio e fim. Para essa nossa análise, esta seria a obra mais interessante de Joyce.
Um dos atrativos que incentivam o trabalho sobre a obra de Joyce, seria o virtuosismo técnico e a competência narrativa, esse um dos principais aspectos que levaram Caetano a trabalhar com esse autor tão difícil. Seus textos são marcados por um invencionismo e não uma invencionice. O primeiro livro que Joyce escreveu era uma enorme biografia, ele jogou tudo fora e reescreveu mais tarde, dando então origem a obra: O retrato do artista quando jovem.

Dublinenses.
É neste livro onde vai aplicar melhor a técnica da narrativa. É um olhar penetrante para o outro, para o externo. Neste relato podemos perceber uma grande capacidade de empatia, o que caracteriza a capacidade de entender e de se projetar nos outros. Com isso a capacidade de conceber outros possíveis.


O retrato do artista quando jovem.
Este é um livro sobre o próprio Joyce, quando jovem, quase adolescente cujo personagem principal é Stephen Dedalus, alterego de Joyce. Aqui o autor, sai do painel externo e passa a falar de si em forma de monólogo interior. Há uma identificação com o pensamento adolescente. Dublinenses e o retrato, foram escritos na mesma época, mais é possível traçar essa diferença na narrativa; quando Joyce publica esse livro, já esta muito afastado desse eu. Vai ser publicado no dia do aniversário de 40 anos, dia 2 de fevereiro. Ressaltando uma superstição que Joyce fazia questão de exigir. Depois disso, vai então escrever Ulisses, sua grande obra.


Ulisses.
Começa com três episódios sobre Dedalus, dando a impressão de uma continuação. No terceiro episódio aparece o fluxo de consciência num grande monólogo interior de Dedalus, onde ele esta caminhando pela praia e divagando. Isso chega a causar uma estranheza e até um choque no leitor, devido a mudança de narrativa, porque é preciso que o leitor acompanhe as razões do personagem.
Na vida pessoal de Joyce, ocorre uma série de acontecimento, entre eles a morte da mãe. Esses acontecimentos são trazidos para o texto de Ulisses, onde acontece uma mescla de ficção e os fragmentos de sua vida pessoal. Aqui Joyce não é mais a pessoa que escreveu o retrato. No quarto episódio, começa a falar de uma outra pessoa que é o Leopold Bloom, personagem central da narrativa, esta passagem pode ser compreendida como uma metáfora: “O sol nasceu de novo”, a esta nova pessoa que surge, onde antes estava noite agora o sol vem trazendo essa nova pessoa. Temos agora duas pessoas em contraste: o Bloom e o próprio Joyce no alterego de Dedalus, os dois tentando se encontrar. Então: na continuidade da explanação, primeiro, Joyce olhou para fora, para os outro; depois olhou pra dentro, com o retrato do artista quando jovem; e agora esta olhando para fora e ao mesmo tempo para dentro de si.
Destaque aqui também para a personagem feminina de Moly, a mulher do homem velho, uma personagem mais sofisticada, relatada com várias técnicas de representação de discurso. Monólogo interior, junto com outras técnicas para entrar em uma esfera adiscursiva. Uma descontrução da escrita. Mais adiante, Joyce vai opor o Ulisses ao Wake, já que aquele é a narrativa do dia, do sol; este trata da noite, dos sonhos.


Finnegans Wake.
Ulisses acaba com um sonho de Moly proposital, para terminar o livro de uma maneira fácil. Joyce usa uma técnica que consiste em “não diga, fulano esta com sono. Faça-o dormir”. Então Bloom vai murchando, sumindo até terminar o livro. Wake é sobre a noite, trata do mundo dos sonhos, então Joyce não vai fazer o relato de um sonho, vai narrar como se estivesse no sonho. Isso se reflete na forma com que cada leitor vai se deparar com os textos, tornando o livro muito pessoal. Assim como os mecanismos que são essenciais na produção dos sonhos.
Joyce termina Wake aos 56 anos e falece aos 58, portanto esse é um livro sobre o fim da vida, é um livro sobre a maturidade quando a pessoa tem mais facilidade de se reconhecer e de rever tudo que viveu: recalque, incesto, culpa, sexo e morte. E porque Freud e Joyce tinham tanto em comum? Em tudo existe mais no homem, o humano é maior. Joyce queria deixar um livro obscurecido, porque existem coisas que não podem ser ditas. Tem mais atrás do que esta escrito e que é visível, coisas que são humanas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um filme sobre o desejo.

Em primeiro lugar quero esclarecer aqui, quando trato do termo desejo me refiro ao articulador central da subjetividade, como aquele que organiza as relações temporais. Neste aspecto, fiquei impressionada com o filme Gattaca- a experiência genética do diretor Andrew Niccol de 1997. O filme trás como protagonistas, no papel de Vincent Freeman, Ethan Hawke e no papel de Irene, a incrível Uma Thurman (Kill Bill). Num futuro não muito distante, os bebês podem ser fabricados pela genética e ter seus caracteres genéticos manipulados, excluindo-se assim imperfeiçoes físcias e até de caráter. Aqueles que são concebidos a maneira convencional, ou seja com amor, são considerados "imperfeitos" e sofrerão uma espécie de segregação, para eles não é permitido ascender socialmente e assumir funções importantes. Mais Vincent Freeman nasceu com um sonho, e como era impossível alcançar projeção social devido a sua origem, ele teve de assumir uma outra identidade, a de Jerome Morrow: ex nadador imbatível que sofreu um acidente e ficou paraplégico. Vincent queria voar para outros planetas, fazer parte da tripulação dos melhores e mais bem preparados que vão para as jornadas interplanetárias. Durante os treinamentos ele conhece Irene, que logo se apaixona por ele e mais tarde vai descobrir o seu segredo, mais mesmo assim o ajuda na jornada. Vincent luta contra tudo e contra todos até conseguir realizar o seu desejo: voar, para isso vai atravessar o seu fantasma e numa demonstração incrível de persistência e determinação consegue seu intento. Diferente da medosa Irene, que sempre faz o trabalho com perfeição, mais quando chega a hora de voar, não consegue ir adiate. Vincent mostra que é possível , mesmo tendo algumas limitações, mais o desejo não tem fim. Um filme emocionante e surpreendente.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mais um dia chuvoso na capital dos pinheirais.

Hoje o dia estava chuvoso, nem por isso menos gostoso. A chuva lava a tristeza junto com ela vai a cabeça, num pensamento indo embora com tudo na sua hora. Que chova mais um pouco e que venha com ela a aurora de coisas melhores que as de agora, e que traga pro meu coração mais uma linda canção!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

E o que mais?




Neste blog também estou abrindo espaço para outros assuntos: cultura pop, poesia, música, televisão eventos culturais na cidade de Curitiba e mais. Espaço democrático, livre para expressão que não posso ter em meios acadêmicos. E tudo isso é claro junto com a Psicanálise de orientação freudiana! Hey ho lets go.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Porque a necessidade de escrever um blog?




O objetivo desse blog é criar um espaço eletrônico para o debate de idéias e textos sobre Psicanálise e sobre a clínica psicanalítica. Para tanto vamos começar com textos sobre o seminário 8 de Jaques Lacan: A transferencia, tema de meu primeiro trabalho de cartel, de onde vem inspiração para o título "A cilada para os deuses."