sábado, 17 de outubro de 2009

Deslocamentos do feminino por Maria Rita Kehl.


Inicia dizendo que desde os primórdios da Psicanálise Freud já sabia das conseqüências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos e que por essa diferença haveria uma distinção. Indo mais adiante na história do pensamento ocidental, Maria Rita cita o livro “Condição Humana” de Anna Arendt: onde o valor de um homem se avalia pela sua vida pública ou na função que ele exerce publicamente. Por isso estariam excluídas da vida pública as mulheres e as crianças que não teriam representatividade social. Do mesmo jeito que fora constituída a Polis Grega. As mulheres e as crianças eram então pessoas sem visibilidade - que seria alguma coisa que essa pessoa faz e que os outros vêem que ela faz e por isso atribuem um valor a isso que é feito.
Mais quando as mulheres conseguiam outros destinos pulsionais, que não fosse cuidar da casa e dos filhos, quando conseguiam outras atividades que lhe satisfizessem, eram consideradas histéricas. E isso deixa de ser escondido por causa das observações do Dr. Freud. Portanto sabe-se que uma parte da insatisfação histérica se dá pela sua condição de castração infantil, o que torna a mulher parecida com a criança (por isso apanha). E na cultura moderna apenas no islamismo e na Psicanálise que existe essa distinção entre homens e mulheres, já que somos todos referidos ao significante fálico. Para Dostoievski, a histeria é a salvação da mulher; e o homem, nesse sentido esta em desvantagem.

A mínima diferença.
Que não precisa nem ser anatômica. Para ilustrar essa diferença, Maria Rita se utiliza dos exemplos de violência doméstica que fizeram parte da mídia. E relava um dado alarmante: cerca de 70% das mulheres assassinadas foram mortas por seus companheiros ou ex-companheiros. Faz uma análise de que talvez o homem de hoje tenha como último reduto de sua masculinidade o ambiente doméstico, e como as mulheres conseguiram o direito de não mais viverem com eles ou de escolher outros amantes, ou seja, descobriram recursos fálicos ao seu dispor na cultura. Esses homens se sentem ofendidos e reagem com violência. Mais não são apenas os homens que não sabem o que fazer diante das mudanças de comportamento, as mulheres também, ai a famosa pergunta “o que quer uma mulher?” Essas mudanças culturais permitiram a elas irem em busca do que querem, ameaçando o reinado masculino.
Mais a mínima diferença é da ordem do infantil. Quando as crianças percebem que há uma diferença, existe então uma fantasia infantil em torno de toda essa diferença, como organizador da personalidade. No real do corpo não falta nada, mais no imaginário infantil sim, e para passarmos para a teoria, no simbólico é a visibilidade que é levada em conta. O imaginário da castração se faz presente e é isso que marca essa diferença, na angústia da castração, que para a mulher que não tem nada a perder, tudo é lucro. Mais para o homem, fica a ameaça se não cuidar pode ficar como a mulher, que não tem, é uma constante ameaça. Esta aí então a mínima diferença, no resto homens e mulheres são praticamente iguais, nas roupas, no trabalho, nas obrigações. O que quer dizer que a sociedade ampliou o simbólico. Mais o que acontece com o desejo? Atribui-se ao outro como causa do desejo, nesse sentido, a mulher é o objeto a por natureza: persegue mais nunca se alcança. A mínima diferença é o que mantém a relação entre homem e mulher, ela é subjetiva e marcada pela demanda do falo.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo Blog, e, especialmente pela divulgação das idéias de importantes pensadores, incluindo a escritora e psicanalista Maria Rita Kehl;

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